Reflexão de aniversário
A vida agora pede algo raro em tempos de ruído: disciplina e simplicidade
Semana passada, 8 de outubro, completei 42 anos. Se você me perguntasse há alguns anos como eu me sentiria aos 42, talvez a resposta fosse completamente diferente do que estou prestes a compartilhar. O que posso dizer agora, com clareza, é que estou entrando no que, segundo a Antroposofia, é o começo do meu sétimo setênio — o ciclo de sete anos que marca uma transição profunda, onde corpo, alma e espírito se realinham de forma mais madura e consciente. Eu não sabia disso, mas o amigo Fabricio Pamplona me trouxe este insight na sua mensagem de aniversário e eu fui atrás para aprender mais. Gostei e me identifiquei, por isso compartilho aqui.
Esses ciclos de sete anos são uma provocação por si só. Do nascimento até agora, cada setênio foi uma fase de construção, descoberta, erros e acertos. Mas este, dos 42 aos 49, não é mais sobre conquistar o mundo, provar algo para os outros ou acumular realizações. Parece ser, se eu seguir os sinais, uma fase de colheita e reconexão com o que realmente importa. De equilibrar a busca por resultados de curto prazo com o impacto — tangível e intangível — de longo prazo. De usar tanto a ciência, a razão, os números e o pragmatismo quanto a arte, o instinto e a subjetividade para viver o hoje e o amanhã de forma mais rica e construtiva.
E isso me faz pensar nos princípios do estoicismo, uma filosofia que tem me guiado silenciosamente por muitos anos. Filosofia é algo incrível, e se olharmos com atenção, veremos que por trás de muitas mensagens de autoajuda atuais há um princípio filosófico profundo. O filósofo Epicteto nos lembra que a única coisa que realmente controlamos é nossa reação aos eventos. Tudo o que ocorre ao nosso redor, seja um grande sucesso ou um aparente fracasso, é neutro até que decidamos como reagir. E aqui entra uma grande verdade: controlo pouco, quase nada fora de mim. Mas o que posso controlar? Minha postura diante das situações, a maneira como encaro a vida e os valores pelos quais escolho viver. Isso me coloca no centro das decisões, responsável e protagonista do meu caminho. E, à medida que exploro novas avenidas e amplio meu repertório, percebo que o verdadeiro crescimento acontece quando me doo mais ao outro.
Aos 42, não se trata mais de querer mais — mais títulos, mais sucesso, mais reconhecimento. Agora, é sobre ser mais: ser mais fiel aos meus valores, às conexões autênticas que escolhi cultivar, e às causas que realmente importam. E para ser mais, a vida pede algo raro em tempos de tanto ruído: disciplina e simplicidade. Recentemente li o livro 4.000 Weeks, de Oliver Burkeman, que caiu como uma luva: a vida é curta — temos, em média, 4.000 semanas neste planeta — e aprender a usá-las com sabedoria nos toma pelo menos metade desse tempo.
Entro nesse setênio com uma pergunta: “Estou agindo conforme aquilo que realmente acredito?” Isso é mais profundo do que parece, porque muitas vezes caímos na armadilha de agir no piloto automático, empurrados pela maré do mundo ao invés de remar com clareza em direção ao que realmente faz sentido para nós. A disciplina estoica me lembra que ação sem reflexão é perda de tempo, e que a verdadeira medida do sucesso é como me aproximo de ser a pessoa que quero ser, todos os dias.
Olhar para o futuro, para os próximos sete anos, é também reconhecer que cada ação agora é uma semente plantada para o que vou colher. E se a colheita depender dessas sementes, quero plantar coragem, autenticidade e impacto. Coragem para dizer "não" ao que não ressoa, autenticidade para ser quem sou em qualquer ambiente, e impacto porque o que eu faço precisa tocar a vida das pessoas. O trabalho que escolho precisa transformar positivamente minha comunidade, as pessoas à minha volta, e até o mundo — esse é o verdadeiro legado.
O impacto não se mede apenas por conquistas materiais ou números, mas pela forma como as pessoas são afetadas pelo que fazemos, como movemos a roda do mundo para frente, e como deixamos marcas positivas e duradouras. Não estou mais interessado em ser apenas bem-sucedido; quero que meu trabalho reverbere em ações que gerem impacto real, criando pontes e oportunidades para outras pessoas.
Não tenho todas as respostas — aos 42, quem tem? Mas estou comprometido em fazer as perguntas certas. E talvez esse seja o maior presente que posso me dar neste novo ciclo: a sabedoria de viver com mais perguntas do que respostas, mais presença do que pressa, e mais foco naquilo que não se compra, não se vende, mas que define quem somos.
Essa jornada não é sobre ter tudo, mas sim sobre saber o que é suficiente. E essa é a reflexão de aniversário que levo comigo: o que realmente importa e o que estou disposto a fazer para honrar isso, todos os dias.
Alex
O único verdadeiro teste de inteligência é se você consegue o que quer da vida.
Naval