2024 será mais um ano de contrastes para as startups. De um lado, a inteligência artificial (IA) impulsiona o crescimento e a criação de valor. Do outro, a necessidade de gerar receita de curto prazo se torna cada vez mais urgente, mesmo com a inflação controlada.
Até março de 2022, as startups viviam em um mundo diferente. O foco era o longo prazo, com capital abundante, rodadas Seed e Série A fechadas em semanas e investidores brigando para participar. A monetização podia ser adiada em nome do crescimento e da construção de uma plataforma robusta.
Mas o cenário mudou. A guerra na Ucrânia, a alta da inflação e a desaceleração da economia global criaram um ambiente mais adverso para o investimento em startups. Os investidores, agora mais cautelosos, exigem demonstrações de viabilidade econômica e geração de receita de curto prazo.
2024 será diferente?
Não. Encontrar o equilíbrio entre construir o futuro e gerar receita no presente continuará sendo um dilema para as startups.
Caso real: Um mentorado montou uma plataforma de SaaS que gera muito valor para clientes B2B. Mas a monetização da plataforma não é suficiente para sustentar o negócio. E aumentar o valor do SaaS traria muita fricção para o crescimento.
A solução encontrada foi distribuir um produto financeiro através da plataforma, aumentando significativamente a receita. O produto financeiro está alinhado com a proposta da plataforma, mas endereçar duas dores é mais complexo e caro do que apenas uma.
Alguns investidores sugeriram ignorar o produto financeiro e focar 100% na plataforma. Eles argumentam que isso aceleraria o crescimento e tornaria a plataforma mais defensável. No entanto, esses mesmos investidores não aportaram o capital necessário para sustentar essa estratégia.
Seria mais saudável para os empreendedores focar em produto e crescimento, sem se preocupar com monetização e receita de curto prazo. Mas as mensagens do mercado são confusas. Ora, se a recomendação é focar no longo prazo, então ajude a criar as condições para que isso aconteça. Faça o que eu digo e faça o que eu faço.
O ser humano e o mercado são controversos, mas a realidade é que a responsabilidade por fazer o negócio acontecer está nas mãos dos empreendedores. Enquanto o "cheque" que sustente a estratégia de criação de valor de longo prazo não vier, o empreendedor deverá continuar focado em criar valor de longo prazo e capturar valor de curto prazo. Não tem jeito, o malabarismo na alocação de recursos irá continuar.
Assim, as startups que desejam prosperar em 2024 precisarão continuar seguindo as regras do jogo:
Priorizar a viabilidade econômica: Demonstrar um modelo de negócio sustentável e gerar receita de curto prazo é fundamental para atrair e manter o interesse dos investidores. Idealmente, encontre um caminho onde levantar capital com VCs se torne opcional, e não questão de vida ou morte para o seu negócio.
Criar valor para o cliente no curto prazo: Oferecer produtos e serviços que atendam as reais necessidades dos clientes é a base para a construção de um negócio sólido e lucrativo. Parece óbvio, mas vale lembrar que uma das principais razões (41%) por trás da morte de tantas startups é a falta de product-market fit (PMF), ou seja, a criação de um produto que o mercado não necessita.
Gerenciar recursos com eficiência: Alocar recursos de forma estratégica, priorizando as iniciativas que geram maior impacto no crescimento e na receita, é essencial para otimizar o capital disponível. Suas principais apostas para 2024 refletem como o capital, tempo e energia da equipe estão sendo alocados? Você já implementou os mecanismos de controle para garantir que os projetos estão acontecendo conforme planejado?
Considerando o contexto de 2024:
Animação com a IA: A IA é uma das áreas mais promissoras para o futuro, e as startups que operam nesse segmento podem ter um bom desempenho em 2024.
Inflação sob controle: A expectativa é de que a inflação continue sob controle em 2024, o que pode trazer um certo alívio para o mercado de tech. Porém, isso deverá ser mais sentido nas empresas listadas do que nas startups, uma vez que o levantamento de capital pelos VCs continuará não sendo fácil.
LPs ainda overallocated em venture: Os LPs (limited partners, os investidores dos fundos) ainda estão de ressaca da farra que ocorreu até 2022, e muitos continuam com excesso de alocação nesta classe de ativos (venture capital), significando que continuará sendo difícil para os fundos levantarem capital, o que aperta o funil.
VCs continuam críticos e seletivos: com menos capital disponível no mercado e sentindo a pressão do fundraising na própria pele, os VCs (venture capitalists) continuarão críticos e seletivos com os seus investimentos, priorizando startups com modelos de negócio sólidos e viabilidade econômica comprovada.
Minhas recomendações para startups:
Faça uma análise profunda do seu modelo de negócio: Identifique as áreas de maior potencial de geração de receita e concentre seus esforços nessas áreas.
Desenvolva uma estratégia de marketing e vendas eficaz: Atrair e converter clientes é fundamental para o sucesso de qualquer negócio. Preste atenção no CAC (customer acquisition cost) e foque em trazer o máximo de vendas possível, evitando customizações e variações de produto para diferentes clientes.
Monitore seus indicadores-chave de desempenho (KPIs): Acompanhe de perto o desempenho do seu negócio e faça ajustes conforme necessário. Eu recomendo uma reunião mensal de resultado (RMR) com a liderança e pelo menos um participante externo, que pode ser um investidor, mentor ou advisor - que traga um senso crítico e perspectiva externa - para monitorar como o planejamento estratégico está sendo executado, quais metas e KPIs precisam de revisão, e brainstorm ideias e ações que aceleram a curva de aprendizado e crescimento.
Seja flexível e adaptável: Esteja pronto para ajustar sua estratégia à medida que o mercado e as condições econômicas mudam. Parece óbvio, mas mudar de rota com o carro andando não é nada fácil e nunca acontece sem resistência do time, por isso é importante manter a mente aberta, a comunicação clara e o músculo da adaptabilidade sempre treinado.
Foque na viabilidade econômica: Por fim, demonstrar um modelo de negócio sustentável e gerar receita de curto prazo é essencial para atrair investimentos. Melhor ainda é se seu negócio for auto-sustentável e não precisar de dinheiro de VC para operar e crescer, assim a decisão de quando, quanto e a que termos captar fica nas suas mãos.
Em resumo, o ano começa mais morno do que gostaríamos; no entanto, acredito que o pior já passou e que aos poucos o clima em startupland tende a melhorar. Ao empreendedor e investidor (que frequentemente também é um empreendedor) só nos resta arregaçar as mangas, respirar fundo, colocar um sorriso no rosto, e seguir em frente. O show não pode parar, a aventura tem que continuar, a história precisa ser escrita.
Bora!
Let's hike!
Alex
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Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
Rubem Alves