1. Divã
Tenho viajado bastante a trabalho ultimamente. Na missão de ajudar meus clientes – desde startups até empresas com faturamento anual acima de R$1 bilhão – a trabalharem de forma mais focada e estratégica, construindo valor de longo prazo, acabo atuando quase como um “divã corporativo”. Não tenho uma fórmula mágica; na verdade, recorro a uma metodologia antiga, mas sempre eficaz: conversar e ouvir atentamente. Meu papel é ouvir mais do que falar, fazer perguntas e me aprofundar nos temas que surgem com frequência nas conversas com a liderança. Preciso de exemplos concretos para entender cada situação e, depois de pelo menos dez conversas, de visitar a operação e de analisar os números de perto, as principais dores e oportunidades de cada cliente se tornam claras.
Com 20 anos de estrada, aprendi que não existe empresa perfeita – longe disso. Empresas são conjuntos de pessoas, e pessoas são imperfeitas por natureza; buscar a perfeição seria, no mínimo, ineficiente. Mas, se todas as empresas são imperfeitas, deveríamos simplesmente aceitar as coisas como são e seguir em frente? Claro que não. Entre os diversos problemas que vejo, o mais grave é a falta de foco, que muitas vezes se manifesta como um problema de comunicação interna. Sempre haverá funcionários reclamando de excesso de trabalho, salários insuficientes e líderes pouco inspiradores. Porém, se a empresa tem uma estratégia bem definida, com metas e objetivos claros para cada colaborador, ela suporta outras dores e segue na direção certa.
Não adianta ter uma cultura repleta de festas, happy hours, benefícios e líderes carismáticos, se a empresa opera de forma reativa e os resultados não aparecem. Às vezes, o curto prazo até é mantido na base do grito, mas criar uma vantagem competitiva sustentável, com produtos e serviços de margens atraentes e um posicionamento único... isso dificilmente será alcançado assim. A festa, nesse caso, dura pouco. Ter clareza de rumo e alocar foco, capital, pessoas e energia para chegar lá é fundamental. E isso vale tanto para os CNPJs quanto para os CPFs. Meus principais aprendizados acerca de estratégia e planejamento estratégico - tanto para os negócios quanto para a vida pessoal e profissional - foram compartilhados nesta masterclass prática (link).
Como bem disse Bruce Lee: “A consistência a longo prazo supera a intensidade de curto prazo.”
2. Product-market fit
“A única coisa que importa é alcançar o product-market fit (PMF)... PMF significa estar em um bom mercado com um produto que consiga satisfazer esse mercado.” Marc Andreessen criou o termo product-market fit em 2007 e, desde então, o mercado de tecnologia amadureceu, se tornou muito mais data-driven e hoje conseguimos olhar para PMF de forma mais quantitativa. O artigo “A Quantitative Approach to Product-Market Fit,” escrito pela Tribe Capital, é bastante rico e profundo na sua análise do que é alcançar PMF, incluindo a análise de cohorts de usuários e receita, crescimento e churn. Apesar de denso, vale a leitura. Obrigado, Bruno Novarini, pela indicação!
3. Tsai
Dando início à segunda temporada do podcast que comecei ano passado com o amigo Tiago Luz, Um Impossível por Vez, tenho a alegria de compartilhar o primeiro episódio com um empreendedor fora do padrão: Tsai Chi-yu, fundador da Stay. A Stay é uma plataforma que conecta empresas e talentos com benefícios, incentivos de longo prazo e previdência privada. Recentemente, a empresa captou um pre-seed de mais de R$10 milhões, e tenho a honra de ser um dos investidores-anjo.
Tsai, nascido em Taiwan e neto de uma longa linhagem de pescadores, imigrou para o Brasil com a família aos cinco anos. Sua história é cheia de camadas e traz grandes aprendizados. Este episódio está muito bom — confiram no YouTube ou no Spotify!
Refletindo sobre esses três pontos, há um tema comum: no fim, tudo se resume a uma boa conversa. Essa antiga tecnologia – ou melhor, metodologia – de colocar duas pessoas para dialogarem com presença, com o foco em criar valor, funciona sempre. Quando ambas as partes estão abertas, dispostas a evoluir e a deixar o ego de lado, o verdadeiro aprendizado acontece. Até o trabalho quantitativo de analisar o product-market fit só se torna significativo quando os empreendedores ouvem seus clientes e buscam entender como resolver, de fato, seus problemas. No mundo dos negócios e da vida, ouvir e ser ouvido é sempre atemporal e a essência de qualquer relacionamento produtivo.
Obrigado por me acompanhar e vamos que vamos!
Alex
“Uma boa conversa é tão estimulante quanto um café preto e tão difícil de se dormir depois.”
― Anne Morrow Lindbergh, Gift from the Sea